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sábado, 9 de maio de 2009

Política de educação está mal formulada

Maiesse Gramacho - Repórter da UnB Agência

O que é preconizado pelas políticas públicas educacionais quase nunca corresponde à educação oferecida aos alunos do Ensino Médio. E esse descompasso começa ainda na formulação das leis que orientam a educação brasileira. Esta foi a principal conclusão do estudo realizado por Ericka Fernandes Vieira Barbosa, mestre em Educação pela Universidade de Brasília.
A pesquisadora avaliou as duas principais normas vigentes em nível nacional – a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM) – em dissertação intitulada Políticas Públicas para o Ensino Médio e Juventude Brasileira. A metodologia usada foi a de análise do discurso crítico, na qual o pesquisador procura identificar a carga ideológica das idéias expressas.
“O discurso analisado apontou para a existência de elementos ideológicos conflitantes. Em vários trechos de ambas as orientações normativas foi possível observar uma tendência a discursos contrários”, diz. Ericka percebeu que apesar de o MEC prever a “educação a partir do sujeito”, também apresenta um discurso submisso a exigências externas como, por exemplo, o vestibular e o mercado de trabalho. “Pude verificar que as normas, embora defendam a formação para a cidadania, para a autonomia do sujeito, ao mesmo tempo permitem que o aluno fique submetido a exigências outras, como as econômicas”, afirma.

Os conflitos identificados pela pesquisadora fizeram com que ela tentasse identificar o jovem a quem as políticas públicas são dirigidas. “Se as normas defendem a educação pautada no sujeito, é preciso, antes, saber quem é esse sujeito, quem é esse jovem. Tentei descobrir de que juventude a LDB e as DCNEM estão falando, e percebi que os estudantes do Ensino Médio foram referenciados principalmente na categoria generalista de aluno, sem considerar a condição juvenil. Em alguns trechos dessas normas, os jovens são vistos até mesmo como ‘clientela’”, conta.
Para Ericka, ambas as normas precisam ser revistas. “A LDB foi promulgada no final de 1996, há quase 13 anos. As DCNEM, no final de 1998, ou seja, há 11 anos. Elas foram criadas em um contexto econômico, demográfico e com estatísticas específicas em relação a alunos matriculados, evasão etc. Depois de dez anos, já é outra conjuntura”, pondera.
REFORMAS – Ericka Fernandes acredita que as mudanças que o MEC pretende implantar são positivas. O Ministério propõe modificar a forma de acesso às universidades públicas, com a utilização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no lugar do vestibular. E o Conselho Nacional de Educação (CNE) debate uma proposta que visa focar o currículo em quatro dimensões básicas para a formação juvenil: o trabalho, a ciência, a tecnologia e a cultura.
A carga horária também deve ser ampliada. “Essa mudança, especificamente, vai modificar a abordagem curricular, criando a possibilidade de o conteúdo ser trabalhado de um modo mais aprofundado. Ela vai ao encontro das alterações que aponto como necessárias em meu estudo”, diz a pesquisadora. De acordo com Francisco Cordão, presidente da comissão do CNE designada para avaliar as medidas, a previsão é de que o Conselho aprove a proposta, por sua “relevância social e educacional”.
A professora Wivian Weller, que orientou a dissertação de mestrado de Ericka, destaca a importância de estudos como o realizado pela aluna. “Se a intenção é pensar um novo modelo para o Ensino Médio, é preciso saber quem é esse jovem que está na escola, porque se eu, gestor, pretendo ampliar a carga horária, preciso saber se o aluno tem condições de permanecer mais tempo na escola”, observa.
Segundo a docente, os trabalhos sobre juventude e educação, no Brasil, ainda são recentes e estão restritos à academia. “São poucos os gestores públicos que buscam a contribuição dessas pesquisas para a formulação de políticas públicas”, diz. Atualmente, há cerca de 8 milhões de pessoas matriculadas no Ensino Médio no país.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Mudança na Educação?

Mudar pra ficar na mesma

Urgências? O Brasil tem muitas. A saúde pede socorro. Sobram pacientes, mas faltam leitos, remédios, profissionais. A segurança assusta. Homicidas, latrocidas, traficantes fazem a festa com crescente desenvoltura. O cidadão ergue grades, tranca portas, esconde-se em casa. Torna-se prisioneiro enquanto os bandidos invadem ruas, escolas, comércio e prédios.

A educação não fica atrás. Pais fazem a parte deles. Mandam os filhos à escola. Passados os anos, descobrem que ter o nome na lista de chamada não significa acesso ao conhecimento. Crianças tornam-se jovens incapazes de ler e entender, escrever e ser entendido, resolver questão que envolva as quatro operações. Em suma: bancos escolares viraram sinônimo de perda de tempo.

Ano após ano, fazem-se avaliações. Ano após ano, confirma-se o diagnóstico — a escola vai mal. O mais recente retrato da tragédia mostrou o ensino médio de corpo inteiro. Na lista do Enem, os colégios municipais e estaduais figuraram na rabeira. Os particulares, no topo. Ora, como a maior parte da população depende de instituições públicas, algo precisa ser feito. E não é de hoje.

O ensino fundamental é exigência da Constituição. Pais que não matriculam os filhos correm o risco de parar atrás das grades. A obrigatoriedade, porém, para aí. O descalabro revela-se, então, sem eufemismos. Situado no meio do caminho, o nível médio serve de ponte para a universidade. Mas muitos não têm vocação para a academia. Mesmo assim, têm de se submeter à decoreba sem fim pra passar no vestibular. Sem base e sem motivação, a moçada cai fora. Resultado: torna-se presa fácil do tráfico & cia. bandida.

O que fazer? O MEC anunciou projeto de mudanças — distribui as 12 disciplinas em quatro grupos (línguas, matemática, humanas, exatas e biológicas) e aumenta a carga horária (de 2.400 para 3 mil horas). O modelo está previsto nas diretrizes do ensino médio desde 1988. De lá pra cá, o país não se preparou pra novidade. Mas quer implantá-la em 2010. Conclusão: sem qualificar professores, equipar laboratórios e modernizar bibliotecas, confirma-se a tese do italiano Giuseppe di Lampedusa. Muda-se pra ficar tudo na mesma.
Dad Squarisi

(artigo publicado em Opinião do Correio Braziliense)
Em quinta-feira, 07 de maio de 2009